25 junho 2009

tempo...

...definição da angústia.
Pudesse ao menos eu agrilhoar-te
Ao coração pulsátil dum poema!
Era o devir eterno em harmonia.
Mas foges das vogais, como a frescura
Da tinta com que escrevo.
Fica apenas a tua negra sombra:
— O passado,
Amargura maior, fotografada.

Tempo...
E não haver nada,
Ninguém,
Uma alma penada
Que estrangule a ampulheta duma vez!

Que realize o crime e a perfeição
De cortar aquele fio movediço
De areia
Que nenhum tecelão
É capaz de tecer na sua teia.

Miguel Torga, in 'Cântico do Homem

earth song




R.I.P.

17 junho 2009

...para quem quiser

Para Ti

Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo.
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre.
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida.

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

14 junho 2009

open your eyes

"Open your eyes, open your mind
proud like a god don't pretend to be blind
trapped in yourself, break out instead
beat the machine that works in your head"


...uma música do meu tempo...soa estranho...sim, um "abanão"...

11 junho 2009

o princípio do fim?


...eis que depois de ter lido um artigo da revista Sábado dou por mim a pesquisar um pouco mais sobre "o fim do mundo em 2012"... pois se nos basearmos no calendário maia (não é o da Maia) haverá no dia 21 de Dezembro de 2012 um alinhamento invulgar entre a Terra, o Sol e o centro da Via Láctea que gerará uma alteração magnética terrestre e que por sua vez dará origem a tsunamis, terramotos, ...só ou algo mais? ...pois...as teorias divergem... e vocês...em que é que acreditam?

09 junho 2009

na busca do que sou

(imagem google)

...no silêncio que a minha vida às vezes me premeia dou por mim a pensar no que sou, em quem sou, na complicada humana, mulher, menina,...assumindo os papeis da "idade adulta" dou por mim deslocada do mundo pequenino que eu julgava ser menos cruel...na busca diária de um equilíbrio dou por mim a consultar signos, ascendentes e horóscopos à espera de encontrar soluções que me insiram onde ainda tão longe estou...é nessa busca constante que paro e penso no estranho ser que me invade ora com sorrisos alegres e incandescentes ora com sorrisos forçados...sou por vezes prisioneira de mim mesma...pois até por mim mesma sou traída.

07 junho 2009

(in)consequências da idade adulta

Oh!

A idade venturosa da infância!

Onde há outra mais feliz e mais tranquila, mais sorridente - isto é, mais egoísta?...

Em volta de nós podem suceder as piores catástrofes. Se elas nos não arrancam nem os brinquedos nem os bolos, não nos atingem de forma alguma... não as compreendemos sequer...
Quando muito, correm-nos lágrimas vendo chorar as nossas mães.

No entanto, é só ainda vagamente que percebemos a dor humana. Por isso as nossas lágrimas secam depressa diante dos brinquedos. E se o quadro em que nos agitamos é risonho, a infância tansforma-se-nos então num jardim maravilhoso. Para as crianças felizes, só para elas, existe realmente um céu - o ceú dos seus primeiros anos.

(Mário de Sá-Carneiro, in O Incesto)


Quisera eu ser criança todos os dias, pintar o mundo com as minhas cores…quisera eu não pensar em ser adulto…para não pensar.